Cerca de 35% dos casos de infertilidade feminina se devem aos problemas tubários e a obstrução das trompas é um dos mais comuns deles. Entre suas causas mais comuns estão a endometriose, pela formação de aderências (cicatrizes) após cirurgias, pelas infecções pélvicas ocasionadas por microrganismos como a clamídia ou pela ligadura (laqueadura) tubária.
As trompas são duas estruturas finas e delicadas situadas na região superior do útero. Têm como finalidade receber o óvulo liberado durante o fenômeno da ovulação e permitir o seu encontro com o espermatozoide, ou seja, é dentro das trompas que ocorre a fecundação natural (in vivo). No entanto, quando as trompas estão obstruídas isso não acontece. Inflamações, infecções, cirurgias e cicatrizes não só afetam a permeabilidade tubária, ocasionando uma obstrução uni ou bilateral, como também lesam os seus cílios e, assim, a sua capacidade de transporte. As células que revestem internamente as trompas devem também secretar um muco nutritivo, responsável pela nutrição do embrião nos seus primeiros dias após a fecundação. Esta função encontra-se muitas vezes prejudicada.
Outro problema observado com a obstrução das trompas é a perda da capacidade da extremidade tubária de se voltar para o ovário e “abraçá-lo”, não podendo assim receber o óvulo por este liberado. O que se vê muitas vezes são trompas fixas e distantes dos ovários, direcionadas para um sentido oposto ao que eles se encontram. As alterações podem ser leves e responsáveis por uma demora maior para engravidar. Mas, frequentemente, as lesões são severas e impedem completamente a ocorrência da gestação.
Procedimento cirúrgico é uma boa alternativa
Basicamente existem 2 métodos diagnósticos capazes de verificar a funcionalidade das trompas uterinas: a Histerossalpingografia e Vídeolaparoscopia. O primeiro é um exame radiológico realizado por hospitais e clínicas de diagnóstico por imagem que, após a introdução de um líquido de contraste radiopaco, permite a visualização e a documentação da passagem do mesmo pelo aparelho reprodutivo, simulando o trajeto percorrido pelo sêmen. Através da histerossalpingografia analisa-se o canal cervical, a cavidade do útero, a permeabilidade das trompas e a dispersão do contraste no abdômen. Trata-se, no entanto, de um exame de difícil interpretação, muitas vezes variando muito o diagnóstico emitido de profissional para profissional. Outra limitação é o não seguimento dos corretos preceitos técnicos para a sua correta realização. As queixas de desconforto ou dor por parte das pacientes submetidas a este exame não são raras.
Já a Videolaparoscopia é o exame mais preciso para avaliar a integridade das trompas e diagnosticar uma série de anormalidades, como é o caso da endometriose. Ele é realizado em ambiente hospitalar que, sob anestesia geral, permite visualizar através de imagens o interior do abdômen e identificar a anatomia do aparelho reprodutivo. Os benefícios são inúmeros: cirurgia minimamente invasiva com incisões que variam de 0,5 a 1 cm; menor tempo de internação hospitalar com menos dor pós-operatória; e menor tempo para recuperação. Também são relevantes os detalhes técnicos permitidos pela videolaparoscopia que são a visão em detalhes de maior aumento e proximidade sem a necessidade de se utilizar um microscópio cirúrgico.
Vale à pena operar as trompas?
Após a cirurgia, a trompa frequentemente volta a ficar permeável, mas não consegue ter o mesmo desempenho (normalidade anatômica e funcional) que apresentava antes. Por este motivo, muitas vezes a repermeabilização das trompas ocorre, mas a gestação não. Existe também a possibilidade de ocorrer, em um curto intervalo, nova obstrução, desta vez por fibrose (cicatrização) e um risco maior de gestação ectópica (tubária).
No passado, quando as taxas de sucesso com a fertilização in vitro (FIV) eram bem mais baixas, muitas vezes optava-se pela cirurgia. Hoje em dia, com melhores resultados através da FIV, cada vez menos se realiza a cirurgia tubária. Esta ainda encontra seu espaço nos casos em que a mulher é bem jovem e o casal não tem recursos para custear a FIV. Importante salientar que após a realização da cirurgia faz-se necessário aguardar vários meses ou, até mesmo, alguns poucos anos para verificar se a gravidez ocorre ou não. O surgimento de uma gestação é única prova efetiva de que o tratamento cirúrgico de desobstrução das trompas realmente foi efetivo.
Fonte – ginecologista Joji Ueno (CRM-48.486)