Pouco frequente, o câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado, o de menor chance de cura e considerado o mais letal das neoplasias do aparelho reprodutor feminino. No momento do diagnóstico, cerca de 3/4 dos cânceres desse órgão já se apresentam em estágio avançado. A maioria dos tumores de ovário são carcinomas epiteliais (câncer que se inicia nas células da superfície do órgão), o mais comum, ou tumor maligno de células germinativas que dão origem aos espermatozoides e aos oócitos.
Na fase inicial, o câncer de ovário não causa sintomas específicos. À medida que o tumor cresce, pode causar pressão, dor ou inchaço no abdômen, pelve, costas ou pernas; náusea, indigestão, gases, prisão de ventre ou diarreia e cansaço constante. Outros sintomas, apesar de menos comuns, também podem surgir, como necessidade frequente de urinar e sangramento vaginal. A maioria desses sintomas não significa que a mulher tem tumor de ovário, mas serve de alerta para que ela procure um médico.
Laparoscopia proporciona melhor imagem do tumor
Diante de algum sintoma suspeito, o médico poderá pedir exame de sangue específico e uma ultrassonografia transvaginal. Baseado nos resultados desses testes, poderá ser indicada biópsia (feita por laparoscopia ou laparotomia) do tecido ovariano.
Embora a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética possam criar imagens detalhadas do interior do corpo, eles podem perder alguns tumores, especialmente se forem muito pequenos. Os médicos muitas vezes solicitam uma laparoscopia antes da cirurgia para confirmar se a doença ainda está apenas no ovário e se pode ser completamente removido cirurgicamente. Neste procedimento, um laparoscópio, tubo fino e flexível, é inserido no paciente através de uma pequena abertura cirúrgica no abdome. O laparoscópio tem uma pequena câmara na extremidade, que permite o envio de imagens do interior do abdome para um monitor de televisão, permitindo ao médico uma avaliação atenta da superfície dos órgãos e gânglios linfáticos próximos. Às vezes, a laparoscopia é combinada com ultrassom para proporcionar uma melhor imagem do tumor.
A laparoscopia exploratória, seguida de biópsia do tumor, além de útil para confirmar o diagnóstico, permite observar se há comprometimento de outras regiões e órgãos.
Cirurgia laparoscópica: preservando a fertilidade
Diversas modalidades terapêuticas podem ser oferecidas (cirurgia, radioterapia e quimioterapia). A escolha vai depender principalmente do tipo histológico do tumor, do estadiamento (a extensão da doença), da idade e das condições clínicas da paciente e de se o tumor é inicial ou recorrente. Se a doença for detectada no início – especialmente nas mulheres mais jovens e que desejam ter filhos – é possível remover somente o ovário afetado. Nesse caso, podem ser submetidas à cirurgia conservadora, preservando tecido ovariano e os demais órgãos reprodutivos. Desta forma, estas pacientes continuam férteis e podem engravidar.
Tumor borderline é um tipo de tumor com comportamento “intermediário” em termos de agressividade. A cirurgia com ressecção completa da lesão tem grande chance de cura. Como ocorre com frequência em pacientes jovens, é possível preservar a fertilidade com relativa segurança.
A cirurgia laparoscópica no câncer de ovário geralmente está restrita a casos mais iniciais. Consiste basicamente na realização de 3 ou 4 incisões de 0,5 a 1 centímetro no abdômen. Após a confirmação de malignidade, por meio destas incisões é realizada a coleta de liquido abdominal, ressecção do omento e biopsias do peritôneo. A seguir, a cauterização do suprimento sanguíneo do útero (vasos uterinos e ovarianos) e o útero é separado das estruturas próximas, como reto e bexiga. Então é realizada a secção do fundo vaginal e o útero e seus anexos (trompas e ovários) são retirados pela vagina. Caso necessário, a linfadenectomia pode ser realizada pela via laparoscópica.
Os principais benefícios da cirurgia laparoscópica são: menor dor pós-operatória; recuperação pós-operatória mais rápida; menor sangramento; além do benefício estético de incisões menores.
A taxa de conversão para cirurgia aberta é de cerca de 5%.
Fonte – Ginecologista Joji Ueno (CRM-48.486), doutor em medicina pela Faculdade de Medicina da USP, responsável pelo setor de Histeroscopia Ambulatorial do Hospital Sírio Libanês e Diretor na Clínica Gera (www.clinicagera.com.br).